"A caridade é, sem dúvida a essência das ideias espíritas, porque
constitui a didática da vida no processo de educação do homem em busca
de seu ajustamento com a Lei Natural.
Importa-nos observar que,
mesmo no clima da bondade de nossas fileiras de serviço, as iniciativas
erguidas em nome do amor, muitas vezes, devido ao arraigado sentimento
de egoísmo, podem obedecer a motivações da natureza individualista.
Interesse pessoal e altruísmo, assim como a luz e a treva, alternam-se
na natureza íntima de nossos sentimentos, mesmo quando agimos nas
edificações em favor do próximo.
Ante esse quadro inevitável do coração, serão oportunas as indagações:
Como a caridade tem educado a mim mesmo?
Em que aspectos tenho melhorado a partir da ação social?
Reconheço os traços de personalismo na minha atividade de amparo?
Quais são os sentimentos experimentados com a atividade do bem?
A reciclagem do conceito de caridade em nossos movimentos diários carece de um enfoque sobre convivência.
A dica é : mais valor ao relacionamento humano e menos prática formalizada.
A prática é significativa pelo seu caráter disciplinador, mas acima
dela, deve estar a interação humana e a quebra de barreiras que nos
distanciam do próximo, de sua singularidade rica de lições, que podem
ser absorvidas em regime de salutar intercâmbio de vivências.
Ao erguermos casas de amor ao próximo, costumamos, simultaneamente,
adotar um processo psicológico de caridade com limites, restringindo o
conceito de próximo aos que se beneficiam diretamente das iniciativas
que promovemos.
Saindo dos locais de caridade, muitos corações
amantes do bem, tomados pela incoerência, dispensam tratamentos
ríspidos a serviçais e familiares no lar ou ainda a funcionários e
conhecidos no dia a dia. É a caridade com hora marcada!
A caridade-cidadã é uma atitude ainda distante do movimento sublime da alma na semeadura do bem sem condições.
A cidadania é dever universal de solidariedade.
A cidadania à luz da imortalidade significa a luta íntima na consolidação dos deveres perante a consciência.
Batalhamos pela cidadania de nosso semelhante, igualmente devemos
talhar nas nossas atitudes os sentimentos que nos identifiquem como
cidadãos com participação social consciente, onde quer que estejamos.
Haverá diferença entre o próximo que é beneficiado por nós nas
atividades doutrinárias e aquele que conduz um veículo ao nosso lado,
que nem conhecemos?
Já pensou nisso ?
Cidadania à luz do ser imortal é educar e educar-se, para viver com proveito a grande oportunidade reencarnatória.
Mais do que sistematizar ações sociais, cultivemos a arte de melhorar nossos hábitos no relacionamento.
Ao implantar práticas de acolhimento e recepção sem aprender a
conviver, corre-se o risco da formalização de novas filantropias
atualizadas pelos conhecimentos, mas não aperfeiçoadas pela doação
íntima de si mesmos.
A única atitude que nos leva ao encontro da consciência é aquela, da qual, nossos sentimentos fazem parte.
A caridade é luz que se acende ao próximo, com a qual, igualmente,
deveremos aprender a nos beneficiar no próprio ato de exercê-la.
A proposta de amor não é martirizar-se pelo bem alheio para conseguir a felicidade pessoal.
A caridade é um processo relacional, interativo, de crescimento mútuo.
Ela tem que ser boa, agradável e espontânea, para quem faz e quem
recebe, nivelando ambos no ato de dar e receber, descaracterizando os
papéis de doador e carente, porque carente e doador somos todos."
Ermance Dufaux - Por Wanderley de Oliveira
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