"Não sei o que é pior: já ter conhecido alguém que só dá valor ao que
tem depois de perder, ou ser alguém assim. Não estou julgando. Não se
trata de valores morais ou avaliações do
tipo "certo" ou "errado". O que quero dizer é que é mesmo lamentável só
conseguir se dar conta de algo ou alguém quando já é tarde demais!
Sei que, aos mais céticos, parece conversinha inútil. Mas tenho visto,
ouvido e até acompanhado algumas histórias de dar pena. Triste mesmo! De
gente que parece estar contra si mesmo. De homens e mulheres botando a
perder o que têm de melhor e de mais importante em suas vidas,
simplesmente por não conseguirem enxergar o belo, o bom, o que, aos seus
olhos fechados, parece pouco...
Muito já se repetiu que temos
dois caminhos para aprender qualquer lição nesta vida: pelo amor ou pela
dor. Em geral, infelizmente, escolhemos o segundo caminho. Claro,
inconscientemente. Mas isso não nos torna vítimas ou inocentes. Nem
culpados ou algozes, no entanto. Trata-se, sobretudo, de uma constatação
que deve, sim, servir para nos tornar mais atentos. É fato que já
passou da hora de muitos de nós tomarmos uma boa sacudidela. Um susto
suficientemente grande para nos fazer acordar e manter os olhos bem
abertos!
Por todos os lados, vemos pessoas sendo amadas sem
sequer notar, quiçá valorizar ou retribuir! Pessoas recebendo
oportunidades incríveis, vivendo com familiares e amigos maravilhosos,
estando em lugares imperdíveis... e nada! Só reclamando, só se
lamentando, só desperdiçando. Pecando a vida! Acreditam que a fonte
nunca seca. Apostam que podem ignorar, disfarçar e adiar o amor à seu
bel-prazer que nada vai mudar. E pior: acham que se mudar, nada vão
perder, nada vão sentir, nada vão sofrer.
Mas quando chega o
tal dia em que o outro se cansa e vai embora, ahhh, quando chega esse
dia, é inacreditável o que já vi acontecer! Alguns, primeiro dão de
ombros, como se nem se importassem. Mas com mais ou menos dias... para
quase todos, o desespero bate! A lucidez chega e a impressão que dá é
que, após curto-circuito, suas luzes se acenderam!
Mas agora?
Agora acabou. Finito. O outro não quer mais. Cansou de tentar. Cansou,
não de sua perfeição, porque isso não existe. Cada qual tem sua parte no
enredo vivido. Mas, sim, cansou de se relacionar no escuro do outro! E
assim, diante da falta, do suposto abandono, arregalam os olhos! Reagem
como se estivessem surpresos! "Como assim?!? O que houve?!?" E a fim de
tentar reverter a situação, tornam-se tudo o que poderiam ter sido, mas
nunca se dispuseram a ser! Flores, cartas, galanteios e declarações.
Lágrimas, pedido de perdão, reconhecimentos e elogios.
As
certezas, até então inexistentes, brotam de um não sei onde, baseadas
num não sei o que, recheadas de propostas tão aguardadas, mas que jamais
foram feitas. Onde estava esse desejo? Onde estava essa pessoa? Onde
estava esse coração? Preso em sua própria armadilha! Certamente
escondido, defendido, entorpecido de falsas verdades, crenças
distorcidas e enganos, tristes enganos. Sim, estou certa de que sua dor é
mesmo real agora. Talvez tenha mesmo acordado. Mas talvez seja só a dor
do vazio, da perda. Talvez seja a frustrante constatação de sua
incapacidade de se entrelaçar. Talvez... Quem pode saber o que se passa?
Eu não posso! Quem esperou por atitudes durante tanto tempo também não
tem como saber. Sem garantias. Sem certezas. Só quem pode descobrir qual
a real disponibilidade, quais são os sentimentos pelos quais está
pronto para viver é quem, de fato, acordou! Portanto, se você é quem se
cansou de esperar e foi embora... ou se você é quem, enfim, se deu conta
de que estava dormindo, minha sugestão é que se aquiete, pare, respire,
medite... Dê tempo ao tempo. Dê tempo ao outro e a si mesmo. Tente ser o
mais honesto possível com seu próprio coração. A resposta virá de
dentro. Da sua essência e não da sua tormenta.
E, por fim, se
você nunca passou por isso, esteja atento ao seu amor para evitar as
armadilhas. Porque não me restam dúvidas de que sucumbir a elas dói. Dói
demais! E não há analgésico que faça passar. Só o tempo..."
Rosana Braga
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